Quando chegam os dias de escrever um newsletter, vem em meus pensamentos que escrever qualquer coisa que não seja resolver problemas causados pelos meus personagens, são estranhos. Fico repentino para mim, que sou uma autora de romances ficcionais, que eu não sei escrever outra coisa, além disso. Quanta bobagem… Quem quer saber dos meus aprendizados ou como está sendo minha vida sem redes sociais?
Mas incrivelmente, esse mês de setembro não trouxe só experiencias novas do cotidiano, trouxe também 81 pessoas interessadas em ler o que escrevo, não para ler meus romances, mas para ler qualquer coisa real ou não, que estou disposta a compartilhar.
Confesso que, depois que abandonei as redes sociais, pensei que minha newsletter nunca mais iria crescer. Que eu permaneceria com os meus 19 inscritos e que ficaria ali naquele número para sempre. Às vezes, eu me subestimo, esqueço da minha capacidade, do meu dom que desenvolvi e aprimorei durante anos. Preciso me lembrar constantemente de que, antes de estar na internet, eu já sabia escrever e já escrevia bem.
Quero dizer que são vocês, que me ofereceram essa chance, que hoje escrevo. Afinal, eu sou uma escritora e o que seria da vida de um escritor se não houvesse quem o lesse?
Esse mês de setembro foi o meu melhor mês de 2024 e eu digo isso sem errar, por mais que o ano não tenha terminado, tenho a sensação de que nenhum outro mês vai superar esse.
Depois que li uma newsletter que eu deveria ter guardado como lembrança da minha decisão, imediatamente eu decidir excluir minhas redes sociais. Acredito que o que me manteve firme até agora, sem nenhuma recaída foi a decisão rápida, porque se eu pensasse muito, certamente eu desistiria e continuaria naquele lugar horrível, tendo crises de ansiedade, me comparando, sendo bombardeadas por conteúdos que eu não queria ver. E depois que tomei essa decisão, a qualidade da minha vida melhorou cem por cento.
Lembro das manhãs corridas que pareciam nunca sobrar tempo para fazer tudo o que eu precisava fazer. Eu nunca cumpria minhas metas. Eu tentava convencer a mim de que eu precisava de mais tempo, quando, na verdade, eu gastava esse tempo rolando o feed de Instagram. Eu não fazia ideia do tempo que eu perdia com aquilo, hoje tenho noção disso, porque quando o dia termina fiz tudo o que precisava fazer e sobra tempo até para tirar um cochilo.
Não era só a falta de tempo que o Instagram roubava de mim, mas roubava também minha saúde mental e minha qualidade de vida. Eu passava tempo demais sentada no sofá assistindo à vida dos outros enquanto a minha vida ficava parada no tempo. E eu tinha ideia do quanto aquilo me fazia mal, mas como uma droga eu não conseguia abandonar. Era como se eu precisasse estar ali todos os dias para que eu me sentisse alguém.
Fico me perguntando se ninguém percebe a lavagem cerebral que os gurus do Instagram estão fazendo nas pessoas? Eles o convencem de que você precisa estar ali para ser bem-sucedido. Eles dizem que o Instagram é sua vitrine e que, fora daquela rede social, você não vai conseguir vender e nem ser bem-sucedido.
Eu já sabia que isso era uma grande mentira, anos antes. Em 2018 comecei um novo empreendedorismo. Eu queria ser artesã, fazer biscuit e ganhar dinheiro com aquilo. Foi uma jornada muito difícil e as redes sociais, ao invés de serem minhas aliadas, se tornaram meu pesadelo. Eu ficava o tempo todo me comparando. Eu via os colegas artesãos vendendo e crescendo e eu parada no mesmo lugar, sempre. Passei a imitá-los, fazer tudo o que eles estavam fazendo e, quando precisava vender, arrumar encomendas, eu gravava reels durante toda a semana para tentar encontrar clientes, para no final terminar exaustas e sem nenhum real no bolso.
O Instagram não é esse paraíso para o empreendedorismo. Durante os três anos que trabalhei com artesanato, não fiz nenhuma venda pelo Instagram. Todas as encomendas que eu conseguia eram pelo “Google meu negócio” (que não existe mais, hoje se chama Google mapa), e 5% das minhas vendas eram feitas pelo Facebook. A única coisa que consegui com o Instagram foi dor de cabeça.
Depois que voltei a escrever, entendi de vez que eu não precisava estar nas redes sociais criando conteúdos com validade para ser alguém bem-sucedido. Eu finalmente aceitei isso e me livrei das amarras que me prendiam ali. incrivelmente, descobrir que existe um movimento muito grande de pessoas saindo das redes sociais e ouvindo seus depoimentos, o sentimento é de reciprocidade. A vida fica melhor longe delas.
E por que setembro se tornou o meu melhor mês de 2024? Não foi só porque aceitei finalmente a verdade, mas porque agora tenho tempo para cuidar de mim, cuidar da minha família e entender o verdadeiro valor de estar presente. Consigo passar mais tempo admirando o céu, passar alguns minutos simplesmente sem fazer nada. Esse mês realizei um sonho que vinha alimentando desde janeiro, comprei armários novos para minha cozinha. Eu também fui ao shopping, comprei um sorvete, sentei-me em um banco qualquer e fiquei vários minutos desfrutando da minha própria companhia, percebendo que eu precisava fazer aquilo mais vezes. Pela primeira vez, tracei uma meta e a cumpri antes do prazo. Hoje consigo confiar mais em mim, consigo observar melhor as coisas, estou mais focada no trabalho e fará um mês que não tenho crises de ansiedade.
Claro que eu não contei que um dos motivos de eu decidir abandonar as redes se deu também pela perseguição que eu vinha sofrendo constantemente. Quando eu decidir ensinar outros escritores a viver da escrita, financeiramente falando, a máfia da Amazon me descobriu. Fui ameaçada, chamada de golpista e diariamente tinha comentários maldosos nas minhas postagens. Enxerguei o lado mais cruel do ser humano. Os marqueteiros literários, principalmente aqueles que vendem cursos para escritores fazerem sucesso na Amazon, não aceitaram de forma alguma que eu mostrasse caminhos distintos que levariam escritores a ganharem suas vidas de outra forma. E eu fazia isso totalmente de graça.
Eu me tornei para eles uma enganadora por mostrar que a Amazon, por mais fodona que seja, não é o único pote de ouro que existe por aí.
Hoje consigo viver livramento sem ninguém me perseguindo e, quer saber, não sinto nenhuma falta do Instagram. Falo dele porque era lá que eu passava a maioria do meu tempo. A vida se tornou mais bonita longe daquilo, do algoritmo e das pessoas, embora exista muita gente realizando trabalhos incríveis no Instagram, que vale a pena ser apoiado.
Eu não me vejo voltando para lá, mas não posso prometer que essa será a última newsletter em que falarei sobre isso. Mas posso afirmar o quanto um único newsletter fez diferença na minha vida. Foi lendo sobre o escrito de alguns de vocês que me ajudou a tomar algumas decisões e hoje viver a vida que estou vivendo.
Isso me faz voltar para o início, quando acreditei que os meus escritos não fariam diferenças. Tudo o que expressamos no mundo, seja por escrito, falado ou nas pequenas atitudes, pode influenciar, transformar e melhorar a vida de alguém. Devo enfatizar que isso pode acontecer negativamente também. Dependerá da maneira como você se expressa. Por isso, digo, continuei escrevendo sobre tudo, sabendo que alguém vai ler e vai ver sentido naquilo.